sábado, 12 de janeiro de 2008

sem título

oi, gente.
ainda estou me familiarizando com esse negocio de blog. prometo melhorar.
o texto do primeiro dia, sobre liberdade, faz parte do processo de montagem do novo espetáculo da Cia. Carona de Teatro, `Volúpia`, que deve estrear ainda neste semestre. a direção é de Pépe Sedrez.
essa poesiazinha aí embaixo, sem título, é de ontem e hoje. não é de nada, nem tem função nenhuma, como eu acho que todo texto deve ser.
Se o que me é dado é tristeza
Que a tristeza seja opaca e cinza como a neblina
E que tenha lágrimas e soluços e tardes frias e noites longas e pés molhados em estradas de barro.

Mas se o que me é dado é esperança
Que ela seja um raio que rasgue o céu pesado do meu peito
Que ela ouse minimizar a dor como um infarto ousa interromper a vida
Que ela crie (mesmo que em seguida apague) uma frase, uma letra,
e em alarde (madrugada plena) grite “é manhã, querido, olha o sol, menino, já é tarde”.

Se o que me é dado é dor
Que doa e arda e esmague
Que caminhões recolham os meus gritos jogados fora em sacos de lixo
Que se amontoem os meus ferimentos rivalizando com os prédios mais altos da cidade
Que seja servida à mesa a minha angústia
Que os cortes da minha carne sejam mastigados com pressa (garçom aguardando a gorjeta, taxista esperando o embarque).

Mas se o que me é dado é paz
Que seja como a espuma da derradeira onda antes do primeiro homem chegar à praia
Ou como o galho da árvore antes do ninho
Ou como o lençol antes da insônia ou a taça antes do vinho.

Se é ódio o que me é dado
Que se lance do meu revólver a bala que aleijará a mais inocente criança
Que o carro não freie e que o grito não cale
E que o meu ódio indócil, sedento, não seja contido, não seja algemado
Que o meu ódio sedento, indócil, seja a mandíbula do cão contra a pele da moça
A doença que se esparrama no sofá das entranhas
A mosca que abençoa o cadáver
Que o meu ódio seja um estuprador se o que me é dado é ódio
E que eu vá às ruas com ódio estampado no rosto
Exalando ódio na fumaça suja do cigarro que eu trago, se é ódio o que me é dado.

Mas se for amor,
Se for amor o que me derem,
Que seja amor
Amor sincero
Amor sagrado.
beijos

5 comentários:

Unknown disse...

Gregory!!
Vc simplesmente não escreve, vc consegue mostrar td o que o ser humano mais esconde...a simplicidade, a humildade diante de qlquer sentimento. Bárbaro seus textos...
Parabéns e muito sucesso sempre!!

Sandra Knoll disse...

Ajoelho-me a teus pés e te louvo! Texto infindável...continua percorrendo meus pensamentos!
Beijos
( visite-me! O blog e a casa!)

Paula Braun disse...

Lindo Greg!
Pra variar.Sabes o tanto que te admiro. E quero ver logo todos esses textos mostrados pro mundo (que é o lugar deles)
BEIJOO

Rafael Koehler disse...

Não importa o sentimento que nos é dado. O que importa é sentir... e sentir verdadeiramente cada um...

Enfim... poderia escrever milhões de coisas, mas vc já disse tudo!

Lindo!

Adorei Greg!

Daniel Olivetto disse...

que liiinnnndoooo...

se é por wireless que vêm essas linhas, quero assim intensas...

me dáaaa

beijos
saudadona