Oi, gente.
Trabalhando bastante na peça nova da Cia. Carona e na revisão de meu primeiro livro, Aguardo (que deve ser lançado no final de fevereiro ou começo de março). Aí vai mais um bicho e a foto dele, do Bruninho.
Bruninho, o bichinho da árvore, grudou-se ao caule no exato lugar onde não havia espinhos. Não sabia voar, o Bruninho. Era do tamanho do polegar do único filho dos donos do sítio. O menino, medroso, passava por Bruninho e não o via, preocupado que estava com aranhas e cobras e estilingues e pedras e passarinhos. Bruninho não tinha medo. Protegido do vento pelo caule, das chuvas pelas folhas, de ataques pela barricada natural da árvore, Bruninho, o bichinho, estava feliz e seguro, forte e saudável, belo e perfeito, calmo e disposto. Bruninho conhecia o momento exato em que o sol surgia, sabia dos presságios de trovoadas, identificava os pios e os gemidos de cada um dos outros bichos, sabia dos sinais de acasalamento de fêmeas e machos, conhecia o melhor horário para fechar os olhos e dormir e o melhor momento para despertar com o corpo saciado. Bruninho observava o menino passeando pelo mato. Observava o menino se machucando e, observando o menino se machucando, percebeu o quanto o menino se machucava. Foi picado. Mordido. Cortou o pé. Trincou a unha. Teve a pele arranhada. Quebrou uma perna e dois braços e mais alguns ossos esparsos e Bruninho estava intacto. Bruninho nunca `quase morreu`. Quando Bruninho morreu foi de uma vez. Sem os espirros da pneumonia. Sem os lapsos da velhice. Sem os ais das dores. Sem os xaropes receitados pelas tias. Morreu assim de repente como um paralelepípedo morre ao ser amassado pelo pneu do primeiro carro. O menino, adulto, mostrou à mulher os caminhos que correra naquele mato. Mostrou as marcas nas pernas, as cicatrizes, os machucados. A mulher sorriu um sorriso apaixonado. Não viram Bruninho na árvore para a qual apontaram. Não perceberam a carcaça de Bruninho agarrada ao caule, o marrom da morte de Bruninho agarrado ao caule. E embaixo daquela árvore transaram.
Beijos sem gosto de Bruninho, o bichinho da árvore.
Trabalhando bastante na peça nova da Cia. Carona e na revisão de meu primeiro livro, Aguardo (que deve ser lançado no final de fevereiro ou começo de março). Aí vai mais um bicho e a foto dele, do Bruninho.
Bruninho, o bichinho da árvore, grudou-se ao caule no exato lugar onde não havia espinhos. Não sabia voar, o Bruninho. Era do tamanho do polegar do único filho dos donos do sítio. O menino, medroso, passava por Bruninho e não o via, preocupado que estava com aranhas e cobras e estilingues e pedras e passarinhos. Bruninho não tinha medo. Protegido do vento pelo caule, das chuvas pelas folhas, de ataques pela barricada natural da árvore, Bruninho, o bichinho, estava feliz e seguro, forte e saudável, belo e perfeito, calmo e disposto. Bruninho conhecia o momento exato em que o sol surgia, sabia dos presságios de trovoadas, identificava os pios e os gemidos de cada um dos outros bichos, sabia dos sinais de acasalamento de fêmeas e machos, conhecia o melhor horário para fechar os olhos e dormir e o melhor momento para despertar com o corpo saciado. Bruninho observava o menino passeando pelo mato. Observava o menino se machucando e, observando o menino se machucando, percebeu o quanto o menino se machucava. Foi picado. Mordido. Cortou o pé. Trincou a unha. Teve a pele arranhada. Quebrou uma perna e dois braços e mais alguns ossos esparsos e Bruninho estava intacto. Bruninho nunca `quase morreu`. Quando Bruninho morreu foi de uma vez. Sem os espirros da pneumonia. Sem os lapsos da velhice. Sem os ais das dores. Sem os xaropes receitados pelas tias. Morreu assim de repente como um paralelepípedo morre ao ser amassado pelo pneu do primeiro carro. O menino, adulto, mostrou à mulher os caminhos que correra naquele mato. Mostrou as marcas nas pernas, as cicatrizes, os machucados. A mulher sorriu um sorriso apaixonado. Não viram Bruninho na árvore para a qual apontaram. Não perceberam a carcaça de Bruninho agarrada ao caule, o marrom da morte de Bruninho agarrado ao caule. E embaixo daquela árvore transaram.
Beijos sem gosto de Bruninho, o bichinho da árvore.
7 comentários:
AAAAAAA Gééébssss...
Eu não uqero ser o Bruninho, já que as nossas conversas tem caminhado por aí... rssss
Saudade
Abraçón
realmente as sutilizas na tua esrita e na composição das imagens faz com que a gente se transporte pra vida do Bruninho.
Isso me lembra a frase do Thoreau:
"A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero."
Beijos nesse Bruninho
Greg, tu é foda!
Tá lindo pra variar. Gostei do Bruninho, pelo menos ele via as coisas, não era que nem a minhoca feia que fica escondida cavando túneis inúteis. Eu queria ver esses bichos interagindo com os personagens de aguardo.
Beijoca querido. Cuide-se.
ui...
coitado do Bruninho!
Posta mais!
Posta mais!
Posta mais!
e essa fasuna num volta mais?
Alzira voltou
que bom que tu vem hoje
abração!
o que que deu aqui?
sumiu?
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