quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

sobre cinema e benjamin 'gump'


Acabei de desistir, depois de 2 horas de música grandiloqüente, fotografia ‘linda’, lições de moral a cada 10 minutos e interpretações oscarizáveis, do filme de maior sucesso da temporada: O Curioso Caso de Benjamin ‘Gump’ (ou é apenas implicância minha perceber semelhanças entre este filme e Forrest Gump: narração em primeira pessoa por um personagem ‘abobalhado’ que é colocado em situações nas quais terá que lidar com perdas, guerras, mortes?). O que me levou a perguntar: onde é mesmo que está a VIDA no cinema atual (para não falar das demais artes)? Por que é que o cinema atual (que fique claro, o cinema para o grande público) nos trata como crianças? Por que é que o cinema atual precisa ‘poetizar’ tudo? (TODAS as cenas de suposto maior impacto dramático em Benjamin ‘Gump’ tem algo de ‘relevante’ a nos falar. TODAS as cenas de suposto maior impacto dramático em Benjamin 'Gump' são realçadas por uma trilha sonora de suposto maior imapcto dramático. Por exemplo, o capitão do barco está morrendo após ser alvejado na guerra mas ele consegue falar: ‘tem coisas que temos que aceitar’. E dá-lhe música para suposto maior imapcto dramático. Eu digo que a morte assim é fácil de aceitar. A morte pipoca e música e lágrimas fáceis é moleza. A morte ‘há um sentido para tudo isto’ é fichinha. A morte sem cheiro e sem gosto é a morte que todos nós desejaríamos). Acontece que a porra do cinema (e das demais artes) deveria nos levar a enfrentar os nossos demônios e não a maquiá-los para um passeio no supermercado. Acontece que a porra do cinema (e das demais artes) deveria ser o tapa na nossa cara e não essa merda de religião institucionalizada (aqui ouso uma pergunta: qual a diferença entre o cinema mainstream e as religiões? O que vejo é que ambos tentam ‘criar’ um sentido poético, belo, digerível, para questões que tendem as nos afligir. E digo que, entre as duas crenças, ainda prefiro a mais clássica e curta do Pai-Nosso). E acontece que a porra do cinema (e das demais artes) é a única coisa que nos resta para ampliar os nossos limites e não para estreitá-los nas únicas opções que atualmente ele (o cinema) nos permite: o ‘bonito’, o ‘poético’, o ‘correto’, o ‘explicável’, o ‘sensato’, o ‘digerível’. Chega desta bosta toda! Quero arte que surpreenda, que me mostre o que eu não vejo, que me faça sentir o que é incomum (que seja belo ou incômodo ou sujo, mas que seja de VERDADE), que me coloque contra a parede, porque para ratificar o que eu já conheço e espero eu já tenho a mim mesmo e as igrejas!

14 comentários:

Daniel Olivetto disse...

eu confesso que sou o maior "detestador" desta catarse americana de cinema... esse cinemão de musicão e muita conversa pra bull dormir... não vi Benjamim mas confesso que to meio com o pé atrás...

saudade das sessões de filmes na casa do Grebs!!!

Aninha disse...

Como te falei, a idéia (o cara nascer velho e ir 'desvelhecendo') é diferente. A atriz está linda no filme, o ator eu nunca gostei e não consigo me imaginar um dia gostando. Eu dizia: "tem alguma coisa que me incomoda muito". E tu diz (dias depois): "a porra do cinema (e das demais artes) é a única coisa que nos resta para ampliar os nossos limites e não para estreitá-los nas únicas opções que atualmente ele (o cinema) nos permite: o ‘bonito’, o ‘poético’, o ‘correto’, o ‘explicável’, o ‘sensato’, o ‘digerível’".

Ah quem me dera ter gravado as conversas que tive com a Camila nos últimos tempos, pra te mostrar na íntegra, o quanto concordamos contigo. E tanto que falei também, sobre o medo de me perceber numa "obrigação" em fazer o tal do cinema comercial. Deus (o do pai nosso) que me proteja.

Beijo.

Daniel Olivetto disse...

te indiquei numa brincaderinha no meu blog... veja lá... besitos

Anônimo disse...

Gregory,
é engraçado.. eu acabo fazendo umas dissociações que me ajudam a sair do cinema menos revoltado (se bem que aquele beija-flor simbolizando a eternidade dá vontade de vomitar)
mas por exemplo: quando o cara diz aquela frase melosa antes de morrer.... ele não poderia estar representando a pessoa cretina que diz uma cretinisse dessas antes de morrer, e não necessariamente a mensagem do diretor ou do filme?
porque um diretor, ou autor, que faça arte de VERDADE (não é o caso desse filme) não poderia trabalhar com personagens escrotos em frases escrotas.
Pode ser uma porta incomum.
Eu sempre me imaginei escrevendo um conto onde houve um fluxo de consciência entre três personagens tomando um chá, mas tudo fica preso à mente de cada um. Só que os travessões, os diálogos mesmo, são absurdamente fúteis - e não são poucos.
É algo para se trabalhar...
Abraçon

gregory haertel disse...

oi, Enzo. Concordo contigo quando tu falas sobre o personagem falar coisas escrotas ou fúteis ou melodramáticas. Mas não acho que isso seja uma porta incomum nem em cinema nem em literatura. Alguns exemplos: personagem escroto e filme ótimo - O Cheiro do Ralo. Diálogos fúteis e filme perfeito - Pulp Fiction. De melodramas não me vêm nenhum agora à cabeça. Na literatura o Mirisola trabalhou com personagens escrotíssimos em livros escritos em primeira pessoa.
Acontece que não é isso que acontece no filme. O FILME, e não alguns personagens, é asséptico. Não tem cheiro. Não tem gosto. O asilo com todos os velhinhos felizes (onde até as mortes são 'bonitas' e 'poéticas') e propositadamente clean, como todo o resto do filme. O que me deixa indignado é que sejamos tratados como crianças. Por que é que a morte tem que ser 'poética'? Por que é que tudo tem que ter um sentido que transcenda? Daqui a pouco, se virmos um close de cocô, no cinema, ele será colorido e com um quarteto de cordas tocando ao fundo...

J disse...

Não entendo muito de cinema, então me perdoem se eu estiver falando asneiras rs... De uma forma geral, acho que o cinema e as demais artes nos tratam como crianças porque aceitamos isso. Por mais que o filme, que eu na veradde gostei, seja uma droga, é um sucesso de bilheteria e isso vai fazer com que outros filmes assim sejam lançados. Acho que o problema do cinema, das artes e dos meios de comunicação ainda está no público. Por exemplo, trabalho em rádio e gostaria de tocar música mais decente, mas o público, o povão não quer isso e o meu chefe quer dinheiro, então... fica assim mesmo! Infelizmente...

Jenifer disse...

Poxa, Greg, sabe que o Benjamin nem de longe é o meu estilo de filme ou um grande filme, e confesso que fui assistir pela ocasião do programa mais que pelo próprio filme... mas eu achei ele surpreendentemente bom em algumas partes, ao contrário do que tu descreveste, eu achei arte em "clichês", na morte, quem sabe até mesmo na ausência de arte, no sentimento trivial e comum das coisas óbvias ali... E teu post me fez repensar meu conceito de arte... que pensando bem, decidi nao chamar mais de conceito, está mais para um sentido, que às vezes acorda, às vezes não, e consequentemente, só posso chamar de arte aquilo que me despertou.
O cinema Hollywoodiano raramente me desperta esse setimento, mas vou procurar ser menos preconceituosa nas próximas vezes, quem sabe eu me deixe surpreender mais, e o cinema se torne algo ainda mais apaixonante.
Um beijo, e continue postando muito e sempre.

Osmar Domingos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gregory haertel disse...

e tudo se explica: acabei de receber a revista Bravo, a qual assino, e descubro que o roteirista de Benjamin Gump é o mesmo de Forrest Button (ou vice-versa de nomes e sobrenomes, tanto faz). e fiquei feliz em ver a minha 'implicância' na semelhança entre os dois filmes ratificada. ainda, quero deixar claro que respeito a opinião de todos e acho que essas polêmicas servem para defendermos a nossa posição (independente de qual) com maior certeza.

Beli disse...

Benjamin Button...interessante. Cinema bombardeado pela propaganda, tudo bem, mas ao assistir ao trailler brotou-me uma gotícula de esperança: Isso deve ser bom, a história deve ser boa, pensei. Confesso que gostei de algumas coisas, talvez seja minha inexperiência, de cinema e de vida...não gostei da narração, a mocinha lendo, não, não, não! Gostei do relógio! Há também, a 'força-ação' de barra com as músicas, para melhorar o que não pôde ser construído com um bom diálogo. Então, que tal um DogVille?

caroline p. disse...

Concordo contigo a respeito da comparação entre os dois filmes e também acho que a lição de moral deveria ser evitada. É óbvio que um roteiro que trata de uma história incomum por si só deveria fazer refletir. Por isso, apelar para o discurso fácil enfraqueceu a história. Particularmente, como fã de David Fincher e Brad Pitt (que já fez filmes inteligentes como Clube da Luta e Snatch), acredito que o açúcar fez o filme desandar. Mas não acho tão que o fato de ser um filme comercial seja tão prejudicial. Além disso, acabou popularizando a figura do F. Scott Fitzgerald, que pode ter ganho novos leitores. Mas eu sou apenas uma otimista.

mauro camargo disse...

poxa, ainda bem que não vi o filme... não, não por apenas acreditar em tudo que tá escrito, mas por tem um bom motivo pra não comentar mais nada onde tá tudo tão bem escrito e comentado. somente sorvi os eflúvios polemizados

Katy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Katy disse...

O filme me fez lembrar aquele poema do Charles Chaplin, que fala que a vida deveria ser de traz para frente.
Não, Gregory, não somos crianças, mas as vezes a poesia suaviza a dor e nos dá leveza para continuar.
E gosto que o cinema seja assim, afinal, a vida real não é. É crua, sem floreios ou rodeios e temos que lidar com ela assim mesmo.
Se o cinema fosse fidedigno a vida real, que graça teria?

Beijos.