sábado, 13 de setembro de 2008

outro do Eráclito


O homem estava sozinho. No seu passado, atrás de si (para onde conseguia olhar colando o queixo no ombro esquerdo e forçando bastante os olhos) havia caminhos, sorrisos, medalhas das lutas que ganhara contra monstros, contra insetos, contra outros homens mais fortes do que ele, contra si mesmo (e a si mesmo sempre vencera até aquele momento sem maiores dores, sem arranhaduras), mas dali onde estava até onde conseguia enxergar não havia mais nada, apenas o peso de uma vida transformada em vai e vens de dias e noites, de meses, de angústias incompartilháveis (não por serem as angústias não compartilháveis, mas por ninguém mais por elas se interessar), de sonhos solitários, de anátemas nunca pronunciados. O homem estava sozinho e pela primeira vez se deu conta do quão sozinho estava. Nada mais fazia sentido. Nem a vida. Nem a morte. E era por este motivo fútil que ele ainda continuava vivo. Por ser mais fácil. Menos trabalhoso. Mais digno.

Beijos

Um comentário:

Alex Nascimento disse...

a minha sorte foi que eu estou em um dia feliz, e isso é raro, mas é lindo esse texto, em dias mais tristes eu choraria, ou não...